Crítica de médico ao uso de tatuagens

on 12 de mar. de 2012


As tatuagens nunca foram tão disseminadas e aceitas como hoje, mas ainda conservam a capacidade de gerar polêmica. A manifestação mais recente contra a prática partiu do médico J.J. Camargo, em sua coluna de sábado no caderno Vida: crítico ao que entende como uma moda de gosto estético duvidoso, ele foi especialmente duro com “os que praticam a aberração de tatuar o corpo inteiro, que dá aquele aspecto grotesco e repulsivo”.



A reação não tardou. Zero Hora recebeu uma enxurrada de e-mails, comentários na internet e telefonemas, a maioria contrários às posições de Camargo. No centro da discussão apareceram questões como o valor estético da tatuagem, a mudança que ela pode sofrer durante o processo de envelhecimento e, especialmente, o risco de arrependimento por parte de quem se tatua.

Usada no passado para externar rebeldia ou marcar o pertencimento a determinados grupos, ela virou parte do establishment, presente no corpo das celebridades, dos elegantes e de gente de todas as idades e estratos sociais.

Ao mesmo tempo, ganhou status legal, por meio de normas que estabelecem em detalhes como devem operar os estúdios de tatuagem. A legislação da Capital, por exemplo, determina que crianças e adolescentes só podem se tatuar com autorização dos responsáveis.

A atual popularidade, segundo a psicanalista Mônica Macedo, da Faculdade de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica (PUCRS), decorre de uma necessidade de marcar na pele o que foi vivido.

– Como hoje é tudo muito fugaz e imediato, e os vínculos são estabelecidos e dissolvidos com rapidez, vemos que a tatuagem é um recurso para criar uma marca do tempo, das experiências – interpreta.

Em meio a esse clima de aceitação e popularidade, há os que ainda veem com reservas ou mesmo horror a disseminação de tattoos. Em sintonia com Camargo, por exemplo, está o cirurgião plástico Alberto Goldman, editor da revista Sociedade Brasileira de Laser em Medicina e Cirurgia. Especialista em remoção de pigmentos da pele, ele recebe todos os dias pacientes arrependidos.

 
– Pesquisas mostram que 50% das pessoas que fazem tatuagem se arrependem até o primeiro ano. Já vi uma guria bonita com o boneco Chucky (do filme Brinquedo Assassino, de 1988) nas costas, periquitos que viraram urubus, sujeito que foi tatuar um nome e o tatuador errou a letra. A remoção a laser não é garantida e ainda por cima é cara – diz.

Arrependimento é mais comum quando a tattoo tem nomes

As críticas são rebatidas pela multidão de adeptos da tatuagem. Integrante de uma família de tatuadores com estúdios em Porto Alegre, Florianópolis e até na Escócia, Rodrigo Moraes afirma que tatuagem é uma questão estética. Quem gosta e se tatua não vai se arrepender.

– Arrependimento só existe quando é malfeito. Assim como tem mecânico ruim, também tem tatuador ruim. Mas nunca vi alguém se arrepender de uma tatuagem que antes achava bonita. Também nunca conheci quem fez uma tatuagem e depois não quis fazer outra, de tão bem que se sentiu. Hoje em dia, as técnicas e as tintas disponíveis garantem que a tatuagem vai ficar bonita para o resto da vida – observa Moraes.

Sócio da mulher, cirurgiã plástica, em uma empresa de remoção a laser de tatuagens, Eduardo Pedroso afirma que o arrependimento existe, mas raramente está relacionado a uma mudança de percepção estética. A situação mais comum é a da pessoa que tatuou o nome de um amor eterno que acabou não durando:

– Às vezes, a namorada atual é que traz o cara para remover o nome da outra. Também é comum gente que vai fazer concurso para alguma instituição militar e precisa remover.

O próprio Pedroso já teve tattoo removida do braço. Ele o fez aos 16 anos. Quando chegou em casa e mostrou a novidade, pai e mãe viraram feras. Em 2003, já passado dos 30 anos, resolveu apagá-la:

– A mente humana é assim. Um dia gosta, no outro, não. Mas hoje tatuagem não é mais para sempre. Quem quer, tira.

Fontezerohora

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